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Sweet Nothing

Sweet Nothing

Qui | 23.06.11

One-Shot - Amar-te

 

 

Eu e tu, eu e tu éramos felizes. Tu brincavas com os meus cabelos, tu beijavas-me como só tu e apenas tu sabias fazer. Mostravas-me que todas as coisas eram possíveis, mostravas-me o impossível. Onde estás tu agora?

 

Preciso de ouvir a tua voz, preciso de ouvir o teu rouco sussurrar ao meu ouvido. Preciso de ouvir aquela palavra, que me faz tremer da cabeça aos pés, me preenche o corpo de calafrios e me leva à lua. Preciso de te ver entrar por aquela porta apenas mais uma vez, afinal essa será a última vez que te verei. Por mais que não me queiram dizer, não me dêem certezas eu sei que provavelmente amanhã já não estarei aqui. Amanhã já não agarrarei a tua mão, já não levo os meus lábios aos teus, já não encontro a minha mão com a tua, já não sinto o teu abraço … já não vejo o teu olhar verde penetrante.

 

Desde o dia em que fui internada, desde o dia em que estou fechada neste hospital estás aqui comigo. Ficas comigo todas as noites, agarrado à minha mão. Acordo com o teu beijo e adormeço com o teu “amo-te.”. Até hoje isso foi suficiente para ganhar forças … Hoje sei que o meu estado é mais grave, o meu corpo não reagiu bem ao último tratamento. Não vou mentir, dói. Dói bastante saber que te vou perder para sempre … Lembro-me de todos os dias que passas-te aqui comigo. Do dia em que imploraste à enfermeira que te deixasse entrar; do dia em que te escondeste atrás do armário quando o médico entrou sem aviso e por sorte tu estavas perto o suficiente para te esconderes; lembro-me do dia em que finalmente percebeste que toda a equipa médica sabia que dormias aqui, o teu sorriso quando ouviste a voz do meu pai a dizer que poderias ficar o tempo que quisesses desde que me fizesses feliz. Ele não se enganou, tu fazes-me feliz. Se me fazes feliz agora, contigo a meu lado serei sempre feliz.

 

Eu sei, eu sei que hoje tu notaste que eu estava pior. Por mais que tentasses esconder o teu olhar denuncia-te. Pode não faze-lo às outras pessoas, mas eu entendo-te. A minha mãe obrigou-te a ires a casa tomares um banho, veres os teus pais, comeres qualquer coisa. Tu apenas foste com a minha permissão e prometeste voltar o quanto antes. Estás a demorar demais, já não me resta muito tempo. Eu sei disso … mas eu tenho de esperar por ti. A última pessoa a ver-me serás tu, prometi isso a mim própria e pretendo cumprir as minhas promessas como fiz até agora.

 

Estou sozinha no quarto, os meus pais estão reunidos com o médico provavelmente a receber a pior notícia das suas vidas. A sua filha iria morrer em breve. O tratamento não resultava. A leucemia conseguiu ser mais forte e ganhar mais uma das batalhas. Não antes de  ser derrotada duas vezes anteriormente, mas desta vez conseguiu. Á terceira é de vez, e desta a leucemia ganha a última ronda. Eu vs leucemia. Um vencedor: leucemia. Um destino: morte.

 

                Finalmente entras por aquela porta branca. Não trazes o teu melhor sorriso, esforças-te para que ele apareça no teu rosto mas ele não surge. Tu sabes que eu sei que tu sabes. Eu apenas estive à tua espera.

                Sentas-te na cadeira que em mais de um mês ocupaste, acarinhas a minha mão e dás-me um beijo. Quase que não tenho forças para te corresponder, mas consigo fazê-lo. Preciso de te dizer, existem conversas que ficaram pendentes, palavras que ficaram por ser ditas…

 

                - Jeff, eu sei que vou morrer. – Colocas o teu dedo indicador sobre os meus lábios, não queres ouvir a verdade mas eu sempre fui mais casmurra que tu. – Deixa-me continuar…


                - Elly, tu não vais morrer que conversa é essa? Tu vais ficar comigo Elly, comigo. – As tuas palavras não saem bruscas, apenas elevadas para me mostrares que tens razão, para me fazeres acreditar. Desta vez não meu anjo, eu não acredito.

 

                - Desta vez não meu anjo. Desta vez eu não vou ficar contigo. Eu sei, não precisam de me esconder eu sei que em breve partirei. Sabes qual foi a melhor coisa destes últimos meses? – Ele apoiou os seus cotovelos no colchão da minha cama e agarrou a minha mão. Fechou os olhos e pude ver lágrimas a percorrem-lhe o rosto. – Foste tu. Sempre estiveste comigo, todos os momentos foram vividos contigo e isso, isso ninguém apaga. Podes não acreditar mas comigo a meu lado, foram os melhores dois meses da minha vida. Provaste-me o quanto me amavas.


                - Elly, pára tu não me vais deixar agora. Nem hoje, nem amanhã … nem nunca,  meu amor. – Beijou a minha mão, repetindo o movimento várias vezes.

                - Nunca meu amor, eu estarei sempre contigo. Sempre ao pé de ti, a proteger-te a mostrar-te o caminho correcto. A aconselhar-te. Promete-me duas coisas? Primeira: quando precisares de mim, encara o céu, chama por mim. Fala comigo todos os dias e nunca me esqueças. – Fui interrompida por “ eu nunca te esquecerei” da sua parte. - Segunda, lembra-te sempre destas palavras: Amar-te foi a melhor coisa da minha vida. Amar-te tornou-me completa. Amar-te tornou-me feliz. Amar-te …


                Os teus lábios percorrem pela última vez os meus, o último beijo. Limpas as lágrimas que entretanto surgem na minha face. Com algum custo imito-te o movimento e limpo as tuas. O bater do meu coração começa a tornar-se mais lento … apenas perceptível devido às máquinas que envolvem o corpo e estão ligadas a mim.

                                     

                Com a tua voz rouca, sussurras-me as últimas palavras que oiço em vida. As últimas que queria ouvir.

                - Amar-te também foi e continuará a ser a melhor coisa da minha vida. Amar-te. Amar-te é de sempre e para sempre …

 

 

 

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