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Sweet Nothing

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Ter | 12.04.11

Dreams of Love - Capítulo IXX - Envio ou não envio?

Capítulo IXX – Envio ou não envio?

 

            O mês de Novembro tinha passado a correr, já estava totalmente habituada ao ritmo lisboeta, à escola … basicamente: à minha nova excelente vida. Vivia com o melhor primo do mundo, que por acaso vivia com a pessoa que melhor compreendia. Tinha o melhor amigo do mundo que em conjunto com a minha Ri e com a minha Romi me faziam sentir uma adolescente muito feliz. O meu Benfica continuava imparável, a um ritmo fantástico. Tinha também desenvolvido uma boa empatia com todos os jogadores do Benfica, mas continuava mais próxima do grupinho de sempre: David, Ruben, Fábio, Luisão, Saviola, Javi Garcia, Aimar e Nuno Gomes juntamente com as suas companheiras, formávamos um grupo bastante divertido.

 

            Nestes últimos dias tinha tido bastantes conversas com David, o qual me fazia sentir muito bem e quando estava com ele por momentos esquecia todos os problemas da minha vida, com ele tornava-me apenas a Mariana e ele apenas o David, parecíamos diferentes aos olhos um do outro. Hoje, sábado o Benfica ia ter jogo fora de casa, eu, Andreia e Romi tínhamos combinado assistir ao jogo pela televisão. A manhã foi passada nos estudos e a tarde aproveitada para pôr a conversa em dia com as minhas meninas do Porto. Tinha combinado com elas que nas férias do Natal lhes iria fazer uma visita, mas ainda não tinha falado com Fábio. Quanto aos meus pais, o único que ainda se importa minimamente é o meu pai: liga dia sim, dia não, fazendo questão de referir que a minha mãe se preocupa bastante comigo, mas que o trabalho está cada vez mais exigente, e poucas vezes vai a casa… ainda não percebi como é que conseguem manter um casamento.
            A hora do jogo chegou rapidamente, e com ela aquele nervosinho característico. Romi, tinha trazido duas pizzas médias de fiambre e queijo para o jantar e desapareceram antes da primeira parte terminar. O Saviola, o Fábio e o Ruben tinham entrado desde inicio e David também alinhava no onze inicial. Tínhamos bastantes coisas em comum, mas a nossa amizade tinha vindo a crescer de dia para dia devido, na minha opinião, ao facto de ambos sermos reservados quanto aos nossos assuntos mais pessoais e os não partilharmos com qualquer pessoa; ao facto de amarmos o mesmo clube e de termos amigos em comum. O meu olhar prendia-se e balançava entre três jogadores sucessivamente: Fábio; Ruben; David …

            - Romi, o teu argentino está a jogar bem. Já merecia um golo – comentei.

            - Sim, é verdade. Ele esforça-se, mas nem sempre é recompensado com um golinho – disse-me sem descolar o olhar do ecrã.

            - Sabes alguma coisa da Elena? Tentei ligar-lhe mas foi parar à caixa de correio – perguntou Andreia a Romi num tom preocupado.

            -Ah … pelo que sei teve de ir a Madrid com urgência, mas deve voltar amanhã…

            - As coisas entre o Javi e ela como vão? Não os tenho visto muito juntos – desabafei eu. Quando Romanella se preparava para responder foi interrompida pelo meu grito. – GOOLOO…

            Saltamos as três do sofá onde estávamos instaladas e abraçamo-nos. Foi um belo golo: Saviola fez o passe para Aimar que cruzando encontrou a cabeça do Javi, este mandou a bola para o fundo das redes…

Ao que parece as coisas entre a Elena e o Javi estavam bem, apenas andavam um pouco distanciados uma vez que a Elena estava com muito trabalho em Madrid e para acrescentar tinham ocorrido alguns problemas familiares, nada de muito alarmante. O jogo decorreu normalmente, e ainda tivemos direito a um remate forte dos pés de Ruben mas que embateu na barra, e a um passe de longo de Fábio, mas o Nuno não soube aproveitá-lo da melhor maneira.

            O David tinha jogado bastante bem, ajudando na defesa e a realizar bons passes.

            Deixamos o jogo terminar e demos tempo para que os rapazes se despachassem, enquanto isso arrumamos a cozinha e falamos um pouco sobre a minha adaptação a Lisboa, sobre os meus pais, sobre a vida de Romanella antes de se mudar para Lisboa e de ter conhecido o “conejo” do seu coração… partilhamos histórias bastante divertidas. Andreia, deixou-nos sozinhas na cozinha e foi atender o telefone…

            - Mi more – Romi, costumava tratar-me assim desta forma bastante carinhosa, - o que se passa contigo? Estás distante …

            - E não Romi, estou normalíssima. – Disse-lhe forçando um sorriso, não era verdade o que tinha acabado de dizer. – Bem, vamos para a sala?

            - Estás a fugir ao assunto, quando quiseres conversar eu estou aqui.

            - Eu sei, Romi eu sei. – Disse-lhe piscando o olho e abanando o meu cabelo.

Na verdade, tinha bastantes motivos para estar distante… tinha um pressentimento que as coisas entre os meus pais não andavam bem, aliás nunca tinha conhecido esse estado entre eles, mas algo me dizia que as coisas não estavam como antes. Depois, andava a receber mensagens anónimas e tinha bastante receio que o passado voltasse a atormentar-me, e que o causador da minha infelicidade estivesse mais perto daquilo que eu imaginava. Mandei uma mensagem ao Ruben a felicitá-lo pelo jogo e a dar-lhe nas orelhas pois tinha de afinar a pontaria. Depois de Andreia falar com Fábio ao telefone, foi a minha vez. Mesmo quando estava na Suíça, no fim do jogo eu falava com ele e com Ruben, por chamada ou mensagem, era já como se fosse um ritual. Aquando da chamada com Fábio, ouvi aquela voz com sotaque brasileiro e um sorriso involuntário tomou conta do meu rosto.

            Depois de Romi ir embora e Andreia se ir deitar, permaneci na sala com a televisão ligada mas sem prestar a mínima atenção ao que estava a dar.

            Mando ou não mando?, pensava eu com os meus botões. Porque não hei-de mandar? Somos amigos, e devia felicitá-lo pelo jogo que fez. Não, não mando, de certeza que já está a dormir. O meu lado racional, acordou: A dormir, Mariana? Eles ainda nem sequer chegaram a Lisboa.

            Peguei no telemóvel e digitei o seguinte: “Olá David. Gostei de te ver jogar, estás cada vez melhor. Beijinhos, Mariana”.

            E agora? Envio ou não?

            Antes de me aconchegar no sofá, lembro-me de ler o relatório de entrega. Depois disso, deixei de ouvir o que a televisão transmitia, e a imagem tornou-se distante. As minhas pálpebras cederam, e entreguei-me ao cansaço. 

 

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