Dreams of Love - Capítulo VI - Será?
Saí da cama, abri a janela e deixei que Berna me conquistasse pelo seu cheiro. Em nada se comparava com o do Porto ou mesmo o de Lisboa. Saudades…
Abri o meu roupeiro, vesti umas leggins simples pretas, umas sapatilhas cinza, uma camisola branca e um casaco desportivo também cinza. Costumava vestir-me de uma maneira confortável em dias frios e como sabia que em princípio não sairia de casa, optei por um look mais desportivo. Fiz a minha cama e dirigi-me até à casa de banho, onde lavei a cara com água fria, lavei os dentes e as mãos. O meu cabelo estava uma autêntica desgraça, os caracóis estavam um autêntico ninho pois depois do banho de ontem não o tinha secado devidamente. Acabei por conseguir desembaraçá-lo e ao tê-lo mais ou menos liso, fiz um rabo-de-cavalo. Olhei-me ao espelho, já não gostava do que via há muito tempo, já não me sentia bonita. Respirei fundo mais uma vez, a garganta e o nariz ressentiam depois de efectuar este movimento, parece que dormir ao relento não tinha sido muito boa ideia. Encarei a realidade e fui ver quem é que estava em casa. Dirigi-me até à cozinha, abri a porta devagar e vi o meu pai, de costas voltadas para mim e com o olhar preso no horizonte segurava uma caneca de café.
A porta de madeira rangeu ao sentir o meu toque e o meu pai olhou-me:
- Querida, já está acordada? Devia ter ficado a descansar mais um bocado, como se sente? – perguntou-me com voz doce.
- Só me dói um pouco a garganta e o nariz, mas de resto estou bem. Não consegui dormir mais e fiquei a pensar no que teria para falar comigo. – Olhei-o ao dizer estas palavras e dirigi-me à fruteira de onde retirei uma maçã vermelha, sentei-me perto da janela da cozinha. O meu pai sentou-se a meu lado, pousou a caneca na mesa e entrelaçou as mãos, uma na outra, um tique típico do seu nervosismo. O silêncio instalou-se, era apenas quebrado com o barulho das minhas mordidelas na maçã.
- Pai, por favor não prolongue este silêncio e pergunte o que tem a perguntar.
- Mariana, eu preciso de saber o que realmente a menina quer, quero ouvir da sua boca as justificações para a situação que provocou na noite passada, o porquê da sua falta de atenção na escola, o porquê da sua tristeza neste último ano. – se era verdade que ele queria, era verdade que ele ia ter.
- Só agora é que o senhor percebeu a minha tristeza? Ou foi alguém que o ajudou a chegar a essa conclusão? – Lembrei-me do telefonema misterioso da noite passada. – Pai, diga-me a verdade. O Fábio tem alguma culpa, na sua preocupação repentina, não tem? Era com ele que estava a falar na noite passada? – Conhecia o meu pai bastante bem, baixou os olhos, pegou na caneca de café e voltou a encarar o horizonte pela janela.
- Sim, Mariana o seu primo estava bastante preocupado e depois de você voltar para casa eu estive a falar com ele, porque é que a menina não nos contou sobre o João?–eu não ia rever aquele pesadelo outra vez, outra vez não.
- Pai, por favor. Não me obrigue a falar do que eu não quero, não me obrigue a relembrar o passado… - as lágrimas estavam formadas e prontas para cair – pai por favor, se é para falarmos sobre ele eu não quero ter esta conversa.
- Pronto calma Mariana. O Fábio explicou-me o que aconteceu, mas eu e a sua mãe queríamos ter sido os primeiros a saber, o que lhe aconteceu não o devia ter guardado para si.
- Eu não o guardei para mim, eu abri-me com a Andreia e com o Fábio. Sabe porquê? Eu nunca me senti amada por si e pela mãe, e talvez isso me tenha feito explodir ontem há noite. – as lágrimas já me escorriam pelo rosto, o meu pai voltou a sentar-se a meu lado. – Eu estou farta disto pai, estou farta da vossa indiferença mediante os meus problemas, estou farta de não termos uma relação normal, estou farta de não viver a minha vida, estou farta de ser infeliz… estou farta da minha vida.
- Mariana, nunca duvide do meu amor e do da sua mãe por si.
- É impossível isso acontecer, a cada dia eu tenho mais e mais certezas que vocês não se preocupam e não me consideram vossa filha. – A amargura tomou conta da minha voz, terminei de comer a maçã pus o caroço no lixo e abandonei a cozinha. O meu pai seguiu-me até ao até ao quarto.
- Mariana, a nossa conversa ainda não terminou. – abriu a porta do meu quarto e encostou-se há ombreira da porta – O seu primo e a Andreia não descansaram enquanto não me convenceram, a mim e à sua mãe, que o melhor para si era a menina regressar a Portugal.
Uma onda de alegria percorreu o meu corpo, eu não podia acreditar no que estava ouvir.
- Isso quer dizer, que eu vou voltar para Portugal? – perguntei a medo.