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Sweet Nothing

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Dom | 28.11.10

Dreams of Love - Capítulo IV - Mensagens e mais mensagens

IV – Mensagens e mais mensagens

 

Desci as escadas de encontro à porta de entrada do condomínio, não tive a mínima paciência para esperar pelo elevador. A minha mãe, não se deu ao trabalho de vir atrás de mim e se o fizesse pouca vergonha tinha na cara. As lágrimas invadiam os meus olhos sem pedir permissão e deslizavam pelo meu rosto, turvavam-me a visão mas a raiva que sentia era mais forte e acabei por chegar rapidamente à porta. Sentia-me desnorteada, sem saber para onde ir, queria paz e sossego: precisava do mar. Num acto involuntário, o meu corpo ao entrar em contacto com a chuva arrepiou-se mas nem isso me deteve: segui o meu caminho debaixo daquela tempestade horrível que perseguia as ruas. O céu parecia sentir a mesma dor que eu e talvez por compaixão, chorava comigo num simples e meigo gesto carinhoso. Percorri as ruelas, as ruas, as avenidas e os bairros mais distantes da minha morada, depois de meia hora a caminhar ainda não me sentia cansada mas, a dor que me consumia por dentro era mais forte. Numa luta desinquietante a dor sentimental vencia a dor física e a cada ronda se tornava mais forte, o meu corpo tinha de ceder. Acabei por me sentar num banco de jardim, já velho e danificado com a tinta a querer sair. Fechei os olhos, levantei as pernas e com os meus braços abracei-as, precisava de me sentir segura e estar naquela posição fazia com que o mundo me parecesse mais pequeno. As várias pessoas que passavam na rua, não me dirigiam o olhar ou o mínimo da sua atenção. Iam atarefadas, com os guarda-chuvas abertos e praguejavam no seu francês irrepreensível, como eu detestava esta língua. Revia mentalmente a discussão com a minha mãe e nem por um segundo me sentia culpada.

 

A fonte secou e as lágrimas cessaram, mas a tristeza permanecia. A tempestade acalmou e o número de pessoas na rua começara a diminuir, devia ser tarde pois muita gente tinha regressado do trabalho e devia estar com a família, em casa. Os candeeiros acenderam-se e verifiquei que aquela hora, eu era a única pessoa na praceta. Ao fundo ouvia o barulho dos carros, vozes de pessoas, música, buzinas, gritos … mas aos poucos abstraí-me de tudo, como se um escudo invisível me protegesse de tudo e todos. Deitei-me no banco onde estava sentada, tirei o casaco e pu-lo sobre mim. As pálpebras começaram a tornar-se cada vez mais pesadas, mais pesadas até que me fecharam o olhar e adormeci.

 

Aos poucos, fui abrindo os olhos e deixei que o meu olhar se habituasse à luz da lua e à luz do candeeiro da praceta. O barulho dos carros permanecia, mas agora em vez de ver luzes nos prédios, via persianas e janelas fechadas e ao admirar a noite percebi que tinha dormido bastante, era madrugada. Destapei-me, vesti o casaco novamente e da carteira castanha, que tinha ficado junto ao meu corpo e que trouxera de casa, retirei o telemóvel para ver as horas. Ao desbloquear o aparelho, vi uma notificação que dizia: “63 chamadas perdidas”. Olhei para o ecrã novamente, no canto superior direito marcavam as : 03:26. Resolvi ver as chamadas perdidas, e sem surpresas verifiquei o seguinte:

Mãe – 7; Pai – 10; Rúben: p – 15; Fábio * - 18; Andreia * - 13.

 

Mas quem é que teve a infeliz ideia de contar ao Fábio que eu tinha saído de casa? E porque é que o Fábio tinha contado ao Rúben? Olhei mais uma vez para o telemóvel, a última chamada tinha sido da Andreia às 03h20, tive quase a certeza que nenhum dos três iam desistir até que eu desse sinal, e para mal dos meus pecados as minhas certezas confirmaram-se. Nesse preciso instante recebi uma mensagem de texto do Rúben. Abri-a e li: “Mariana o que te deu na cabeça para saíres assim de casa? Porque é que não atendes o telemóvel a ninguém? Passa-se alguma coisa contigo? Quando vires esta mensagem, POR FAVOR, diz-nos alguma coisa… Adoro-te mana.”

Respirei fundo, não podia continuar a ignorá-los. Os meus pais deviam ter contado ao Fábio, na esperança que ele soubesse alguma coisa de mim. Acabaram por preocupa-lo e ele por sua vez acabou por alarmar Rúben. Não me apetecia nada falar com ninguém, não me apetecia rever aquele momento, precisava de pensar e acima de tudo precisava de me encontrar, de encontrar respostas para as minhas dúvidas. Mandei a seguinte mensagem ao Rúben: “Rúben, eu estou bem não se preocupem pois não me aconteceu nada de mal. Só agora é que vi as vossas chamadas, porque é que o meu primo te avisou? Não tinha o direito de o fazer.  Não me faças mais perguntas, preciso de estar sozinha, desligada do mundo. Adoro-te mano.” Deixei que a mensagem fosse entregue e resolvi sair da praceta. Fiz o caminho inverso ao que tinha percorrido. Estava a voltar para casa.
O meu telemóvel voltou a dar sinal, mais uma mensagem recebida. “Eish, não podes ser assim. Nós estávamos todos super preocupados contigo, merecemos uma explicação. Volta para casa. Já avisei o Fábio e a Andreia, eles devem avisar os teus pais que está tudo bem contigo. Quando te apetecer falar, por favor, liga-me. Eu quero saber e perceber o que se passou, quando chegares a casa pff diz-me alguma coisa. Beijinhos mana.” Este Rúben fazia correr a informação mais depressa do que eu pensava, e depois de andar uns dez metros o meu telemóvel voltou a dar sinal de mais uma mensagem recebida, desta vez: Fábio. “O Rúben já nos avisou que estás bem, Mariana por favor volta para casa. Os teus pais estão preocupadíssimos e estão a pensar chamar a polícia. Onde te metes-te? Beijinhos, Fábio e Andreia”. Polícia? Estariam assim tão preocupados? Tinha as mãos geladas e todo o meu corpo tremia, precisava de um banho quente e do meu pijama. Mal conseguia andar, devido a dor de cabeça que se apoderava aos poucos de mim. “ Não se preocupem, como disse ao Rúben eu estou bem e estou a ir para casa. Por favor não insistam mais, eu estou bem. Obrigada por tudo. Mariana”. Foi esta a minha resposta há mensagem de Fábio, depois disso respeitaram-me e não voltaram a mandar mais mensagens ou telefonemas. O caminho de regresso a casa foi feito em silêncio, as ruas não tinham muito movimento e apercebi-me que afinal, não estava muito distante de casa.

Como muita gente insistiu, aqui está. Se lerem deitem pra cá a vossa opinião.Respondam a perguntinha na barra lateral

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