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Sweet Nothing

Sweet Nothing

Dom | 28.11.10

Dreams of Love - Capítulo III - Ai agora está preocupada?

III- Ai agora está preocupada? …

 

Coloquei a chave na fechadura e abri a porta de casa. Ouvi barulho proveniente da cozinha, a máquina do café estava a tirar mais uma das suas especialidades. Dirigi o meu olhar para a sala, e em cima do sofá estava a carteira pessoal da minha mãe juntamente com a pasta do trabalho e a do computador portátil hoje tinha chegado mais cedo que o habitual. Preferi não passar pela cozinha e fui directamente para o meu quarto, pousei a mala, retirei o leitor de música da gaveta da mesa-de-cabeceira e com os headphones colocados nos ouvidos, perdi-me nas melhores músicas da minha banda favorita. Como eu tinha previsto, a chuva veio para ficar e nas ruas da capital suíça as pessoas andavam agora cobertas por um guarda-chuva para não se molharem e para tentarem escapar ao frio. Sinceramente, nunca percebi esta obsessão pela chuva. Uma das melhores coisas que um ser humano pode fazer é correr debaixo de uma forte chuvada ou então saltar nas poças de água, atitudes um pouco infantis mas todos nós passamos por elas e nenhum de nós as deve esquecer. Encostei a minha cabeça há almofada e fechei os olhos tentando relaxar. Depois de alguns minutos de prazer, os meus pensamentos são interrompidos pela minha mãe.

- Estou a chamar por si há bastante tempo e nem uma resposta me dá?! Tire isso dos ouvidos, – disse-me com um tom autoritário – precisamos de ter uma conversa séria.

- Desculpe mãe, não ouvi chamar e pensei que estivesse ocupada na cozinha por isso não passei por lá quando cheguei. – Uma das coisas que mais me irrita é tratar os meus pais por “você”, mas as regras da boa educação foram incutidas em mim.

- Diga-me Mariana, você pensa que pode manter este teatro muito mais tempo? – Dito isto puxou a cadeira junto da secretária e sentou-se. – Há quanto tempo não vai às aulas e nem sequer põe os pés no colégio?

Quando me ia justificar, a minha mãe voltou a interromper:

- O director do colégio ligou para mim hoje de manhã, comunicou-me todas as suas faltas e disse-me ainda que a menina às poucas aulas que foi, não prestou atenção nenhuma e nem sequer se esforçou o mínimo que se justifique. Você tem noção, do balúrdio que eu e o seu pai gastamos naquele colégio? Tem noção que a sua falta de civismo me interrompeu uma reunião importantíssima?

- O QUÊ? – aquelas acusações foram a gota de água, levantei-me da cama e fui ao encontro da janela, respirei fundo três vezes mas de nada me serviu.  – JÁ ME TINHA ESQUECIDO QUE O QUE LHE IMPORTA A SI É O DINHEIRO E O TRABALHO, JÁ VIU COMO A SENHORA REAGE? ACUSAÇÕES E MAIS ACUSAÇÕES.

- A menina não me fale assim, olhe que eu sou sua mãe.

- MÃE? Mãe em quê? Caso não saiba uma mãe dá carinho, amor e acima de tudo numa situação destas não se preocupa com o dinheiro que gasta com a filha ou com o emprego, preocupa-se sim com o bem-estar. Acha que eu estou bem?

- Não percebo sinceramente o que lhe falta, a menina tem tudo para ser feliz.

- Quer que lhe faça a porra de um desenho? – senti os meus músculos a contraírem-se, todo o meu corpo termia devido aos nervos que me percorriam.

- Mas que linguagem é essa? O seu pai e eu não a educamos assim – vi a figura da minha mãe levantar-se e dirigir-se ao pé de mim.

- Eu quero lá saber da educação que me deram ou deixaram de dar, agora não me serve de nada. Respondendo à sua pergunta, ou melhor respondendo à minha interrogação. Eu não estou bem e sabe porque? Porque a senhora fez a questão de destruir a minha vida, de me separar das pessoas que eu amava, de não se preocupar comigo e de não me dar atenção. A senhora e o senhor a quem chamo “pai”, fizeram a questão de me trazer para esta merda de vida, de mudar os meus sonhos, de me fazer sentir um erro nas vossas vidas medíocres. – Ainda não tinha terminado o meu discurso quando senti um peso sobre a minha face direita. Acabara de levar um estalo, mas nem isso me fez parar. A raiva e a frustração eram maiores que a dor física. – Fazem com que me sinta invisível e que vá vivendo como um ser abandonado e rejeitado por todos.

- A menina não sabe do que está para aí a dizer, a vida ainda não lhe ensinou nada. A menina pensa que é só estalar os dedos e aparece tudo feito, acha que é fácil sustentar uma casa e vida como esta? Quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar.

- Sabe uma coisa, preferia viver debaixo de uma ponte e ser feliz do que estar a passar o que estou a passar. Preferia ter tido pais que me tivessem abandonado, deixado por aí a ter o que tenho agora: uma amostra de progenitores. O meu lugar fica à disposição, para quem o quiser. – Agarrei no telemóvel e numa carteira castanha onde tinha algumas moedas e os meus documentos.

- Mariana onde é que pensa que vai? – a minha mãe saiu do meu quarto e dirigiu-se ao hall de entrada onde já eu me encontrava.

- Ai agora está preocupada? Não se preocupe, se tiver que me acontecer alguma coisa será a primeira pessoa a saber, - agarrei no casaco azul comprido, que se encontrava pendurado à entrada do hall, vesti-o e abri a porta de casa – passe bem.

 

Amanhã talvez volte a postar mas tudo depende dos vossos comentários.

 

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