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Sweet Nothing

Sweet Nothing

Ter | 20.08.13

Ontem foi dia de ...



É um filme muito bem conseguido. Tem momentos de ação e de comédia, sempre com o dedo do Jonhy Deep, fabulosos. Porém, acho que é um filme bastante extenso e que algumas das cenas não faziam falta.

O pior de tudo foi mesmo o facto de dois bancos de distância ter duas jovens - dar-lhes-ia cerca de 14/15 anos - que se riam por tudo e nada. e das coisas que mais detesto é ir ao cinema e as pessoas esquecerem-se que partilham a sala com outras pessoas, que devem respeito e que nem toda a gente quer ouvir os comentários.

E o preço do bilhete? Um roubo... Depois admiram-se que não haja muita gente nos cinemas.
Dom | 18.08.13

Vou fugir

Preciso de sair daqui. Preciso de ver novas caras e ir para sítios onde ninguém me conhece. Preciso de passar por pessoas novas, de imaginar o nome delas e como será a sua vida. Preciso de ver novos adolescentes, imaginar como serão as suas vidas e se se divertem. Preciso de conhecer sítios novos ou visitar alguns que me estejam escondidos em recordações. Preciso de rever uma boa parte, ou a parte boa, da minha família. Preciso das tardes passadas em Torres Vedras e das tardes passadas em Queijas. Preciso de dias ocupados, ou simplesmente de dias onde a minha única preocupação é "qual o filme que vou ver a seguir?".
Isto tudo para vos dizer que vou de férias. Vou uma semana para Queijas e depois devo passar o fim-de-semana numa terra perto de Torres Vedras ou na Ericieira. Devo voltar dia 27, mas no dia 28 volto a ausentar-me e só regressarei em definitivo lá para o dia 2/3 de Setembro.
Ter | 13.08.13

Problemas em parágrafos.

Era uma vez, uma rapariga. Uma rapariga como tantas outras. Uma rapariga de cabelo castanho com cachos desorganizados nas pontas, de olhos com a mesma cor do cabelo, magra (um pouco demais), muito insegura de si própria. 

A rapariga de que falo foi crescendo, teve uma infância feliz e tem uma adolescência complicada. Não tem dias felizes, completamente felizes, há muito tempo. A felicidade não é uma rotina na vida dela, mas o que pode ela fazer? Não lhe é permitido, nem a ela nem a ninguém, estalar os dedos e os problemas desaparecerem ... Não lhe é possível fechar os olhos e fazer de conta que esses mesmo problemas não existem, até porque os problemas que lhe estão associados, têm duas pernas e respiram. 

 

Por incrível que pareça, todos os problemas dela já tiveram momentos de felicidade. Já a fizeram sorrir que nem uma tola, o problema é que agora a deixam de coração partido e por mais que tente lutar contra isso, não consegue.

 

O primeiro deles, começou a 29 de Agosto de 2012. Era um dia normal, um dia de verão normal sem muito para fazer. Um dos amigos da rapariga em questão fazia anos, e durante o jantar de aniversário lembrou-se de lhe mandar uma mensagem " Estive a pensar maninha, e quero-te apresentar um amigo meu.  Ele viu uma foto tua e ficou interessado." . A rapariga estranhou aquela atitude, nunca pensou que alguém se pudesse interessar por ela, muito menos sem a conhecer de lado nenhum e vendo-a apenas numa fotografia. O "maninho", sempre muito persistente e teimoso, lá a convenceu a aceitar que o tal rapaz ficasse com o seu número e a partir desse dia a conversa entre eles os dois fluiu naturalmente. Começaram a conhecer-se, a revelar pequenos segredos. Sem nunca se verem, apenas a imaginar como o outro seria através das fotos que tinham nas redes sociais. Setembro chegou, com ele o início das aulas. Ainda hoje a rapariga de cabelos castanhos se lembra do nervosismo que tinha na barriga logo pela manhã. Chegou à escola, ficou perto do portão com duas amigas a colocar a conversa em dia e com os dois olhos presos a qualquer pessoa que se aproximasse da entrada. Estava a ficar impaciente, ele nunca mais chegava. Sabia que mais cedo ou mais tarde o "maninho" iria chegar, iria cumprimentá-la com um abraço e um sorriso, seguir-se-ia a namorada do mesmo e por coincidência o melhor amigo da "cunhada" era o rapaz que o "seu irmão" lhe tinha "apresentado". 

E, talvez no momento em que deixou de se concentrar na chegada dele, ele chegou. Estava ainda mais bonito do que nas fotos. O cabelo era mais loiro, os olhos de um azul mais penetrante e o sorriso muito mais envergonhado. 

Depois desse dia, continuaram a falar todos os dias por mensagens, na escola desdobravam-se em sorrisos mas quando estavam perto um do outro remetiam-se ao silêncio. Quando um dos dois abandonava o grupo de amigos, aí sim, o outro dizia tudo o que tinha a dizer mas quando quem se tinham ausentado regressava, voltava o silêncio.

Em Outubro, começaram a namorar e tudo parecia correr bem. A rapariga em questão sentia-se uma princesa, fazia-la tão feliz. Porém, não estava destinado para ser. Ela soube, teve certezas, naquele dia 15 de Dezembro que não iriam durar muito mais tempo. Dizeres-lhe que precisavas de pensar, que achavas que não sentias o mesmo quebrou-lhe o coração em mil pedacinhos ... Se tu ao menos soubesses a dor que ela sentiu. 

No dia três de Janeiro, a vossa conversa soou a despedida. Pelo menos, tiveste a dignidade de acabar com ela cara a cara. A sorrir-lhe, e a dizer-lhe que pedias desculpa. Disseste-lhe que ela ia encontrar alguém que a amasse de verdade, mas ela fingiu que não ouviu. Ela só te queria, e se calhar ainda quer, a ti. Tu e ela decidiram continuar amigos, porém evitavam-se ... Nunca mais falaram. E isso custa-lhe tanto.

Se soubesses o quanto lhe custou começares a namorar com aquela rapariga em Março, se soubesses o quanto a fizeste chorar quando ela já se estava a recompor ... foi duro, mas durante o dia ela conseguia sorrir. O problema eram as noites sem dormir.

 

Nessa altura, a rapariga dos cabelos castanhos andava a falar com um rapaz. Um amigo que esteve lá para ouvi-la quando ela precisou, que lhe colocou um sorriso na cara quando ninguém mais o fazia, um amigo que percebia só de olhar para ela que não estava bem. Era bom estar com ele, sentia-se tão protegida e acarinhada na sua companhia. 

Ambos estavam um pouco quente, naquela tarde de Fevereiro, depois de terem estado a festejar a interrupção de Carnaval e os dias de férias que viriam ... Beijaram-se, no meio da multidão, debaixo de alguns olhares e muitos sussurros. Porém a rapariga afastou-se, e disse-lhe que não podia continuar com aquilo. Disse-lhe que não conseguia estar com ele tendo outra pessoa na cabeça, tendo outra pessoa no coração. Não era justo para ele. Não era justo para ela. Não era justo para nenhum dos dois. 

Aquilo caiu no esquecimento, ou pelo menos, ela queria acreditar que sim. Nenhum dos dois se arrependeu do que fez, continuaram a falar como todos os dias.

A rapariga via o ex-namorado a aproximar-se cada vez mais da actual namorada ... A ser mais carinhoso com ela do que fora consigo, a sorrir mais, a rir mais e isso magoava-a. O único ponto de refúgio era o rapaz de cabelo pretos que tinha beijado naquele dia em Fevereiro.

Mesmo com namorada nova, o rapaz loiro não deixou de se intrometer na vida da morena. Parecia bruxedo, ou de propósito ...

Num dia completamente normal o rapaz loiro voltou a meter conversa com ela. Disse-lhe um simples olá, perguntou-lhe se estava tudo bem e se as coisas entre ela e o rapaz de cabelo escuro estavam a correr bem. Naquele momento, a rapariga nem sabia o que sentir. Raiva. Medo. Carinho. Limitou-se a respirar fundo e a ser verdadeira com o loiro que ainda detinha o seu coração. Não se passava nada entre ela e o moreno. A conversa cessou pouco depois e nunca mais trocaram uma palavra desde esse dia ...

 

As coisas continuaram iguais, porém em Maio a rapariga de cabelos encaracolados deixou-se levar pelos encantos do rapaz moreno. Aprendeu a ser feliz novamente. Ela queria apaixonar-se por ele, porém sentia de cada vez que estavam juntos que ele merecia melhor. Muito melhor. Ele é o tipo de rapaz que todas querem ao lado. Que nos vais abraçar nas noites frias, que nos dá o casaco e fica ele a receber o frio, que vê um filme pela centésima vez só para nos ver chorar ou rir em determinada parte. Ele é o tipo de rapaz que nos chama de linda logo pela manhã... A morena sabe que ele é assim. Sabe que, se gostasse dele como ele gostava dela, que teria sido tratada como uma princesa e que ainda hoje seria feliz. Porém, por alguma razão que o coração dela desconhece, não conseguiu sentir o mesmo que ele sentia. A relação que mantinham, chegou ao fim. A rapariga chorou em frente dele, como nunca tinha chorado por ninguém. Sabia que o estava a magoar, e ele sabia que ela estava magoado por estar a magoá-lo. Naquele momento, a rapariga desejou estar completamente apaixonada por ele mas ninguém manda naquilo que sente.

Hoje, essa rapariga percebe claramente que gostava do moreno ... estava a começar a apaixonar-se por ele mas nunca seria suficiente, nunca seira justo para ele.

Talvez, se tiver de ser, um dia o destino junte o rapaz moreno com a rapariga de cabelos castanhos. Por agora, continuam amigos e falam regularmente e isso é tão bom.

 

E depois, depois apareceu na vida da rapariga em questão outro rapaz moreno, com cara de anjo e alma rebelde. Aquele rapaz que tem fama de ter todas na mão, mas que se o conhecermos a fundo vemos ser sensível. Aquele rapaz que consegue ter conversas interessantes, aquele rapaz que quando está com os amigos é o oposto de quando está sozinho, que consegue aproveitar os silêncios sem que estes sejam constrangedores. Aquele rapaz que todos julgam mas poucos conhecem verdadeiramente. 

Começaram a falar do nada, o rapaz perguntou-lhe por acaso se era ela a rapariga que tinha visto em determinado sítio e ao confirmar as suas suspeitas a conversa saiu naturalmente. Agora que a morena pensa bem, ele andou quase três semanas a pedir-lhe o número de telemóvel e ela reticente nunca deu. 

Sem perceber muito bem porque, acabou por ceder. Começaram a falar regularmente, por mensagem mas ele queria mais. Era persistente, e todas as noites lhe ligava antes de adormecer. Ela não queria apegar-se a ele, sabia da sua fama, sabia dos problemas que ele lhe podia causar mas contra tudo e contra todos, apegou-se. Apegou-se mais do que devia, estava a gostar de o conhecer até ao momento em que tudo desabou. Ele dissera-lhe aquelas duas palavras que lhe metem a cabeça à roda, que lhe deixam o coração apertado e os nervos á flor da pele. E mais uma vez, ela não sabia o que dizer. Ela não sabia o que sentir.

Decidiu ser sincera, dizer-lhe que não sentia o mesmo e o moreno com cara de anjo e alma rebelde ficou magoado com ela. Deixou de lhe ligar para desejar boa noite, deixou de cantar para ela a sua música favorita, deixou de lhe mandar mensagens de bom dia assim que acordava. Oh meu deus, como ela sente saudades dessas mensagens.

Como se tudo já não estivesse complicado, o rapaz loiro decidiu acabar com a actual namorada. E, qual foi a primeira coisa que fez? Falar com a "cunhada" da rapariga morena, sobre ela mesma. A "cunhada" disse à rapariga de cabelos cacheados castanhos que o rapaz loiro e de olhos azuis penetrantes tinha falado nela, que talvez lhe mandasse mensagem para voltarem a falar, para se voltarem a conhecer ou pelo menos ficarem amigos. 

Sabe Deus como confusa a rapariga ficou à medida que os dias passavam e a mensagem prometida não chegava. Esperança, novamente aquela esperança, aquela luz ao fundo do túnel ... Novamente o engano.

A mensagem nunca chegou, e a rapariga duvida que algum dia chegue. O rapaz moreno com alma rebelde tem aparentado ter como objectivo magoar a morena. Responde-lhe ás mensagens, diz que quer resolver as coisas mas tão depressa diz isso como deixa de dar qualquer sinal de vida. De todas as vezes que tentaram resolver as coisas, o primeiro passo foi da morena ... E está tão farta, está simplesmente farta.

 

O pior disto tudo, é que a rapariga da história existe mesmo. A rapariga da história sou eu, e os rapazes em questão são vossos conhecidos ( quem acompanha o blog diariamente pelo menos) sabe que já me pronunciei por eles pelo menos uma vez. 

 

Posts sobre o rapaz loiro aqui ,aqui e aqui

Posts sobre o rapaz moreno

Posts sobre o rapaz moreno de alma rebelde.

Qua | 07.08.13

ausência

Vou estar ausente pelo menos até domingo. Uma colega minha vem dormir cá a casa por causa das festas e achei melhor avisar-vos que não vou estar por aqui.

Acho que me vai fazer bem, tê-la aqui comigo. Esquecer os problemas e tentar que pelo menos esta semana seja um bocadinho melhor que as outras que não têm corrido lá muito bem.

Não se esqueçam de comentar a one-shot anterior.

 

Já comprei o produto da L'Oreal para fazer as madeica.s Depois alguém quer ver o resultado?
Sex | 02.08.13

One-Shot - Everything Has Changed

Olá caros leitores, peço desculpa pela demora mas escrevi esta one-shot duas vezes e acho sinceramente que à terceira consegui realmente acertar. Espero que gostem tanto dela como eu. É das maiores que alguma vez fiz, mas era-me impossível colocá-la em partes. 

 

Aviso: O que se encontra a itálico é a letra da música, e a negrito é uma memória.

 

One - Shot - Everything Has Changed

All I knew this morning when I woke
Is I know something now
Know something now I didn't before
And all I've seen since eighteen hours ago
Is green eyes and freckles and your smile
In the back of my mind making me feel like

I just want to know you better know you better
Know you better now
I just want to know you better know you better
Know you better now

 

                Charles sentou-se na cama, com as mãos esfregou os seus olhos castanhos e bocejou. Estava cansadíssimo, exausto da ponta dos cabelos à ponta dos pés. As noites mal dormidas depois de um dia agitado não ajudavam em nada. O problema é que não era apenas um dia por semana, eram todos os dias. Acordava cedo para ir para a escola, depois de um dia cansativo a aturar professores e os colegas, Charles dirigia-se para o seu part-time na pastelaria e só voltava a casa por volta da hora de jantar, depois dessa refeição, fazia os trabalhos para o dia seguinte, estudava, preparava as coisas e tentava dormir o pouco que conseguia.

                A noite era o seu momento do dia preferido. Era durante a noite que tinha tempo para si, para organizar as suas ideias. Era o único tempo que tinha consigo mesmo. Era nessa altura que todos os problemas lhe invadiam a cabeça, para que a sua mente encontrasse solução. Era, também, nessa altura do dia que os seus momentos de alegria – os poucos que tinha – lhe viajavam pela memória.

 

                Ontem a noite, tinha sido preenchida por pensamentos e sonhos. Queria dormir, queria descansar mas em vez disso, só conseguia pensar na menina de cabelos rebeldes, encaracolados, alta, olhos claros, com um sorriso que parecia iluminar o mundo. E sem saber as razões, pensar nela, pensar na rapariga que mal conhecia fazia-lhe tão bem, fazia-o tão feliz.

            O que não o fazia feliz era ouvir o pai gritar com a mãe. De um momento para o outro, deixou de pensar na rapariga. O silêncio que antes invadia a casa era agora uma recordação, assim como ela. Charles suspirou levemente, passou a mão pelos cabelos desalinhados e olhou para o relógio. Estava na hora. Saltou para fora da cama, pegou na roupa que ia vestir naquele dia e dirigiu-se para a casa de banho. Charles sentia que o dia ia ser longo, e ainda mal tinha começado.

 

I just want to know you better know you better
Know you better now
I just want to know you know you know you

 

                Charles chegou à paragem de autocarro e o meio de transporte não tardou em chegar. Como todos os dias, o autocarro estava cheio de pessoas, alguns idosos, outros adultos que preferiam aquele transporte para chegar ao trabalho ou para fazerem algumas compras na cidade.

                Charles não se importava de ir todos os dias rodeado de pessoas mais velhas, isso significava que ninguém o incomodaria durante a viagem. Nenhum adulto quer falar logo de manhã com um adolescente, provavelmente igual a tantos outros, com crises hormonais, com problemas …

                Na paragem seguinte, uma senhora saiu e Charles ocupou o lugar vago que a mesma tinha deixado, a viagem até à escola ainda era longa. Mal se sentou, tirou os auscultadores do bolso e colocou-os nos ouvidos depois de os conectar com o telemóvel. O seu refúgio, a música. Os olhos do moreno fixaram a janela, a mente do rapaz começou a vaguear sem rumo ou direcção. Pensou no futuro. Pensou na vida. Pensou na família. Reflectiu sobre o seu passado e o presente. Charles estava cansado de acordar e adormecer entre gritarias constantes. Queria sair, queria conhecer alguém novo. Estava cansado de todos os comentários rudes e insultuosos que recebia por parte do pai. Assim que acabasse a escola deixaria a cidade para trás. Voltaria uma ou duas vezes por ano para visitar a mãe, ou talvez para a convencer a ir consigo.

                Charles não sabia o que o futuro lhe reservava, não sabia se ia ser da maneira que ele desejava mas isso era tudo o que menos importava ….

 

                Tão depressa como aquele assunto lhe tinha ocupado a mente, desapareceu. Os pensamentos tristes deram lugar a um menos concreto, mas mais feliz. A rapariga de ontem. Charles não sabia a razão, mas por qualquer  motivo ele queria que ela fizesse parte do seu futuro. Era uma loucura, mas era isso que ele queria. Charles queria conhecê-la, ficar a saber tudo sobre ela. Havia nos olhos dela que o tinham cativado desde o primeiro instante. Eram tão intrigantes, e conseguiam transmitir carinho, gentileza, amizade, serenidade ao mesmo tempo. Charles queria conhecer aquela rapariga. Tinha de a conhecer.

                Charles encostou a cabeça ao vidro, fechou os olhos e sentiu-se a viajar no tempo. Dezoito horas atrás, mais coisa menos coisa:

 

Cause all I know is we said "hello"
And your eyes look like coming home
All I know is a simple name
Everything has changed
All I know is you held the door
You'll be mine and I'll be yours
All I know since yesterday
Is everything has changed

 

                Dizer que Charles estava com pressa era um eufemismo. Ele estava atrasado, muito atrasado porém e para ser completamente justa, a culpa de ter perdido o autocarro não era sua. O director de turma tinha-lhe pedido que ficasse depois da aula a conversar com ele. A conversa não tinha sido muito longa, porém fora longa o suficiente para o fazer perder o autocarro que o levava todos os dias até à pastelaria. Charles estava atrasado, muito atraso e só pensava que Rose o ia despedir, ou então matá-lo. Não, lá no fundo Charles sabia que Rose não era capaz de fazer nem uma coisa nem outra. Rose amava-o como se fosse seu filho. Provavelmente, assim que Charles lhe explicasse o sucedido Rose dar-lhe-ia um beijo na testa e apenas lhe pedia para que não voltasse a acontecer.

                Já sentado no autocarro seguinte, Charles verificou que estava dez minutos atrasado. Mal chegasse à pastelaria tinha de por o avental, largar as coisas na cozinha e começar a servir o mais rápido que conseguisse. Com sorte, Rose não tinha dado pelo atraso. Era um plano razoavelmente perfeito, porém era um plano feito por Charles e nada do que o rapaz planeava corria como tal.

                Assim que saiu na paragem mais próxima do seu local de trabalho, as pernas de Charles ganharam vida e com alguma sorte conseguiu evitar bater contra as pessoas que estavam no passeio. Chegou à pastelaria em tempo recorde, nunca tinha demorado tão pouco tempo da paragem ao seu local de trabalho. Abriu a porta e mal colocou os pés dentro da pastelaria, o seu corpo colidiu com o de outro alguém.

                Depois de se equilibrar e respirar fundo, procurou com os olhos a pessoa que o tinha feito parar. Por um momento a respiração de Charles parou, tal como ele tinha feito.

            Na frente dele, estava uma rapariga de olhos grandes, cabelo encaracolado e com um sorriso no rosto. A voz era ainda mais harmoniosa que a cara dela:

               

                - Olá pra ti também, apressado.

                                                                                                                             

                Charles corou, sempre fora muito envergonhado: - Desculpa eu vinha a correr porque estava, quer dizer, estou atrasado e nem te vi. Desculpa, a sério. Estás bem?

 

A rapariga sorriu, abanou a cabeça para confirmar que estava bem e afastou-se, mantendo aberta a porta com a mão. Charles deu-lhe um sorriso, e segurou a porta para ela sair. Mais uma vez, a rapariga sorriu-lhe em tom de agradecimento. Charles dirigiu-se, sem mais demoras para a cozinha para colocar o avental. Assim que voltou ao balcão, olhou uma última vez para a porta. A rapariga continuava do lado de fora, desta vez com o telemóvel preso entre o ombro e ouvido, enquanto remexia na mala. Como se se estivesse a sentir observada, os seus olhos encontraram os de Charles, e sorriu-lhe … uma última vez.

                Charles deixou de a ver assim que um casal entrou na pastelaria, provavelmente ela tinha seguido atarefada pelas ruas de Londres. Mesmo assim, Charles continuou com os olhos presos no exterior da pastelaria, mesmo depois de mais algumas pessoas entraram na loja. Só quando sentiu um toque no ombro dele, a atenção de Charles e o seu olhar esqueceram a porta, para se concentrarem na figura de Rose.

 

                - Aquela era a minha sobrinha, Sienna Rose.  

               

                Depois destas palavras, entregou-lhe uma bandeja de cafés para a mão e apontou-lhe a mesa para os quais eram destinados. Sienna Rose. O nome era quase tão perfeito e tão bonito como ela.

 

 

And all my walls stood tall, painted blue
I'll take 'em down, take 'em down
And open up the door for you
And all I feel in my stomach is butterflies, the beautiful kind
Makin' up for lost time, takin' flight making me feel like


                O dia passou relativamente rápido e sem intercorrências. Charles esteve nas aulas, calado, limitou-se a tirar notas e a rabiscar de lados nos cadernos. Quando a campainha finalmente tocou, sinalizando o fim do dia, Charles suspirou, aliviado. Dirigiu-se ao cacifo para buscar as coisas que lhe faziam falta, e correu para apanhar o autocarro a horas. Hoje não queria chegar atrasado ao trabalho. Foi todo o tempo da viagem a pensar se Sienna estaria lá. Porém, Charles é um rapaz de pouca sorte e assim que chegou à pastelaria, não havia sinal da sobrinha de Rose. Suspirou, foi buscar o avental e começou a trabalhar para manter a cabeça ocupada. A cada passo que dava, sentia o olhar de Rose preso em si.

                O turno de Charles estava ainda longe de terminar, quando a campainha presa na porta da pastelaria deu sinal de um novo cliente. Os olhos de Charles dirigiram-se para a porta, e num instante o dia tornou-se dez vezes melhor. Sienna tinha acabado de entrar. Viu-a sorrir e acenar à tia, para depois ocupar um lugar numa mesa vazia. Rose começou a preparar o lanche da sobrinha, que todos os dias era o mesmo: um café e um croissant com manteiga. Queria ser Charles a entregar o pedido de Sienna, por isso em passo apressado dirigiu-se ao balcão. Rose, percebeu de imediato as intenções do rapaz.

               

                - Charles, porque não levas o pedido da Sienna e aproveitas para tirar uma pausa? Tens trabalhado a tarde toda e estás um pouco distraído, uma pausa de dez minutos iria saber-te bem. – Disse-lhe enquanto lhe passou a bandeja. – Além do mais, tenho a certeza que a Sienna ia adorar ter companhia.

 

                A maneira como Rose proferiu aquelas palavras, não deixou margem para argumentos. Charles pegou na bandeja e fez o que Rose lhe tinha sugerido, mas antes, retirou o avental, dobrou em três, voltou a pegar na bandeja e seguiu na direcção da mesa onde Sienna se encontrava.

           

Sem dizer uma palavra, colocou o café e o croissant na frente da rapariga. Sem pedir permissão,  “escorregou” no lugar em frente a Sienna e colocou a bandeja de lado. Sorriu-lhe e a rapariga imitou-lhe o gesto. Antes de falar, suspirou.

 

                -  Hum, olá… -  aquilo tinha soado estranhamente mal, e Charles teve vontade de se pontapear a ele próprio.- A tua tia pensou que pudesses gostar de ter companhia e … Bem, eu queria pedir-te desculpas por ontem ter ido contra ti. Como já te disse, eu estava atrasado e..

 

                Sienna cortou-lhe a palavra: - Não precisas de te desculpar. Foi um acidente, são coisas que acontecem.

 

                Charles podia jurar que a partir daquele dia de cada vez que Sienna sorria, Charles sentia borboletas na barriga. Uma erupção delas. Ele não sabia o que era, mas sentia-se confortável quando estava com ela mesmo sem a conhecer há muito tempo. Todos os que conheciam Charles, sabiam o quanto demorava para ele ficar confortável e ser ele próprio com alguém, a abrir-se para essa pessoa. Com Sienna era diferente, ele sentia que podia contar-lhe tudo, conversar sobre qualquer assunto e ela iria perceber, aconselhar e acima de tudo ouvir.

                Charles sentia que à medida que conversava com aquela rapariga, todos os muros que tinha construído em torno de si iam caindo. Quebravam-se em pequenos pedaços. Era fácil falar com Sienna, era como se já se conhecessem desde sempre, como se fossem dois amigos a compensar o tempo perdido que tinham estado afastados.

           

I just want to know you better know you better
Know you better now
I just want to know you better know you better
Know you better now
I just want to know you better know you better
Know you better now
I just want to know you know you know you

 

                Os dois jovens continuaram lá sentados, beberricando café e a comer gomas que Rose lhes tinha trazido, durante horas. Falavam sobre tudo. Falavam sobre nada em concreto, apenas desfrutavam da companhia um do outro, estavam a conhecer-se e não davam pelo tempo passar. Para ser sincera,  eles falaram tanto que quando charles olhou para o relógio,  percebeu que era hora de fechar a loja. O seu turno há muito que tinha terminado, e ele tinha passado mais de metade do mesmo sentado, sem fazer nenhum. Quando Charles lançou um olhar preocupado e arrependido a Rose, esta sorriu-lhe com os olhos a brilhar. Acenou-lhe com a cabeça, como se a dizer que não importava, não havia problema nenhum. E realmente, era mesmo isso que ela sentia. Tudo porque Charles estava verdadeiramente feliz, tal como Sienna, e Rose não se lembrava da última vez que tinha visto um dos dois verdadeiramente felizes.

 

'Cause all I know is we said "hello"
And your eyes look like coming home
All I know is a simple name
Everything has changed
All I know is you held the door
You'll be mine and I'll be yours
All I know since yesterday
Is everything has changed

 

                A partir daquele dia, Charles mal podia esperar para que um novo dia começasse e o seu turno na pastelaria desse inicio. Todos os dias, Sienna estava no café, sentada na sua mesa habitual. Enquanto Charles trabalhava e estava mais ocupado, os dois trocavam olhares, ou sorrisos … De cada vez que Charles passava perto da mesa de Sienna, trocavam algumas palavras, simples “olá”, que lhe preenchiam o dia e lhe davam energia para atender o cliente seguinte. Quando a pastelaria estava mais vazia, Charles sentava-se na mesa de Sienna e a conversava arrastava-se durante horas.

                Mesmo que a noite tivesse sido péssima, apesar dos dias de Charles serem mais alegres, os pais continuavam com os problemas de sempre, de cada vez que chegava à pastelaria o jovem esquecia udo. Sienna estava lá, era tudo o que ele precisava. Aquele lugar, agora era a sua casa. A sua verdadeira casa, porque ela estava lá para o receber de todas as vezes que ele chegava, e para o acompanhar de todas as vezes que ele saía.

 

Come back and tell me why
I'm feeling like I've missed you all this time, oh, oh, oh
And meet me there tonight
Let me know that it's not all in my mind

 

                A pior parte do dia era quando se separavam. Mesmo que fosse só por um dia Charles sentia a falta de Sienna. Era-lhe difícil entender como é que Sienna tinha derrubado todos os muros e esculpir ua porta de entrada para o seu coração… Não podia negar, Charles estava apaixonado pela rapariga de olhos grandes e belos … Faltava saber se ela sentia o mesmo.

 

                Rose, entregou-lhe um envelope com o nome de Charles escrito na parte superior. Passou-lhe aquilo para a mão sem dizer uma palavra, mas sorriu-lhe, e voltou ao trabalho. Charles sentou-se, e com as mãos ansiosas apressou-se a abrir o envelope. Abrir não, rasgar. De lá, tirou um bilhete dobrado em dois.

 

                “Encontra-te comigo no final do teu turno, na ponte. – SR”

 

                Charles não pode controlar o sorriso que lhe iluminava o rosto depois de ler aquelas palavras. Continuou o turno dele assim, de sorriso estúpido pregado na cara.

Parecia que o fim do turno nunca mais chegava mas quando deu por si, era hora de arrancar o avental e correr porta fora. A ponte era apenas um quarteirão abaixo da pastelaria, e Charles apressou o passo.  

Quando chegou, parou e observou Sienna. Aparentava estar calma, com as mãos presas no corrimão e o olhar preso na lua.

                Charles passou uma mão pelo  cabelo, um tique nervoso que tinha, respirou fundo e deu alguns passos em direcção ao lugar onde a rapariga estava. 

 

                - Hey, - Charles falou assim que chegou perto de Sienna, e esta sorriu-lhe quando o encarou.

               

                - Olá Charles. – Meu deus, como Charles sentia saudades da voz de Sienna, parecia-lhe mais suave depois de uns dias sem a ouvir, e ela própria lhe parecia mais bonita.

 

                Nenhum dos dois falou durante o minuto seguinte, limitaram-se a olhar um para o outro o tempo suficiente para ficarem envergonhados e voltarem a dirigir o olhar para o luar

                Finalmente, Sienna Rose deu um pequeno passo para a frente e o corpo da rapariga estava totalmente de frente para Charles. Este, respirou fundo antes de mergulhar o seu olhar com o dela. Era intimidante tê-la tão perto de si.

 

                - Há uma coisa que eu quero fazer desde o primeiro dia em que te vi, e isto vai parecer tão estúpido… - .Sienna interrompeu o silêncio que se tinha gerado entre os dois, notava-se que estava nervosa pois as palavras saíam-lhe de forma atrapalhada e rápida. Charles, viu que Sienna respirara fundo antes de recomeçar a falar: - Não me mates depois de fazer o que vou fazer…

 

                Charles ficou surpreendido com a última frase da rapariga, abanou a cabeça negativamente e soltou uma pequena gargalhada:

 

                - Era incapaz de matar alguém, muito menos tu Sienna. – A rapariga sorriu-lhe, e pareceu ficar menos nervosa. Charles, podia ver o sorriso de Sienna a todas as horas sem nunca se fartar do mesmo.

 

                Charles dissera tudo o que Sienna precisava de ouvir, e sem esperar mais tempo a rapariga colocou-se em bicos de pés, colocou uma das mãos de maneira suave na cara de Charles, que ao sentir o toque dela se inclinou. Nesse preciso momento, Sienna pressionou os seus lábios contra os de Charles. Não demorou muito até que Charles percebesse exactamente o que estava a acontecer. Sienna Rose, a rapariga que ele tanto gostava, a rapariga dos seus sonhos estava a beijá-lo. Á noite, na sua parte do dia preferido. Numa ponte, cheia de gente a passear pela cidade, no meio de Londres. Uma descarga eléctrica tinha-lhe percorrido o corpo, e quando o choque passou, foi a vez de Charles colocar as mãos no rosto da rapariga e voltar a encostar os lábios dela aos seus.

            Não havia palavras para descrever o que ambos sentiam. Era perfeito, simplesmente perfeito em todos os sentidos. Era tudo o que Charles desejara, pois Sienna era tudo o que ele mais queria.

                Quando ambos se separaram, Charles continuou com os braços em redor do corpo de Sienna. O rapaz sorria feito tonto, e foi inevitável não corar um pouco. Não sabia o que dizer, mas isso não tinha importância nenhuma. As palavras não conseguiriam fazer justiça a tudo o que os jovens sentiam. Palavras e conversas profundas não eram necessárias quando se tratava de Charles e Sienna Rose. Ambos sabiam o que ia na mente, e mais importante, no coração um do outro apenas pelo olhar.

 

I just want to know you better know you better
Know you better now
I just want to know you know you know you

'Cause all I know is we said "hello"
And your eyes look like coming home
All I know is a simple name
Everything has changed
All I know is you held the door
You'll be mine and I'll be yours
All I know since yesterday
Is everything has changed


                A partir daquela noite os dois jovens tornaram-se mais inseparáveis do que anteriormente eram. Quando não estavam juntos, falavam por chamada ou trocavam mensagens. Parecia que nem um minuto podia passar sem estarem ligados, fosse de que maneira fosse. Charles, tinha encontrado finalmente alguém que o fazia feliz, que o fazia sentir no topo do mundo. E de uma coisa ele tinha certeza, agora não queria descer.

                O relacionamento deles era simples, fácil. Sienna estava sempre a sorrir quando estava com Charles, mas os seus momentos favoritos era quando o rapaz lhe roubava um beijo enquanto trabalhava na pastelaria. Por mais discretos que fossem estes momentos, Rose apanhava-os sempre e tinha a mesma reacção que a rapariga: sorria.


All I know is we said "hello"
So dust off your highest hopes
All I know is pouring rain
And everything has changed
All I know is a new found grace
All my days I'll know your face
All I know since yesterday
Is everything has changed

 

                Nem tudo eram rosas, enquanto Charles era feliz com Sienna Rose, as lutas em casa rinham aumentado.
                Porém, agora, era mais fácil de as suportar. Charles agora tinha um lugar para onde fugir, um refúgio. Por mais negra que a noite fosse, Sienna Rose estava lá para lhe mostrar o sol novamente