Palavras que aconteceram ... #1
Ao contrário de ti, hoje levantei-me bastanta tarde. Passavam alguns minutos das duas e meia da tarde. Quem me dera dizer-te que estive acordada até tarde por boas razões e acordar aquelas horas foi o efeito colateral de me ter divertido até mais tarde ... Pois bem, não foi assim. Estive acordada até tarde, com a cabeça e o corpo totalmente de um lado para o outro. Detesto que isto me aconteça, mas é o que se tem passado. Quando começo a ter demasiadas coisas na mente, demasiados problemas e complicações o meu cérebro não me deixa dormir e descansar em condições. As poucas horas ou muitas horas que acabo por dormir, não dão ao meu corpo o descanso que ele precisa e o resultado destas noites são: dores musculares e uma dor de cabeça que, por mais comprimidos que tome, não passa.
Lembraste daquele rapaz com quem eu mantive uma "relação descomplicada" durante um mês, e depois por não gostar dele o suficiente, por não lhe poder dar o que ele queria, terminei as coisas? O rapaz que mencionei várias vezes no blog, o dos posts com a imagem "amigos" ?! Eu acho que te lembras de eu te ter falado nele ... Pois bem, acontece que nós combinamos continuar amigos, porque apesar de tudo, foi o que sempre fomos. Durante o Verão, falei com ele várias vezes. Algumas delas fui eu que meti conversa para saber como é que ele estava, se estava tudo a correr bem, se se estava a divertir... As coisas normais. As conversas normais que tens com os teus amigos, com as pessoas que te preocupas. Até tínhamos voltado a ter as nossas picardias habituais. Claro que não como antigamente, as nossas picardias antigas acabavam sempre resolvidas com uma mensagem mais carinhosa ou um ato igualmente afectuoso. Durante o Verão, foram várias as vezes que me deu na cabeça por não sair de casa, por nunca me encontrar nas piscinas municipais ou por nunca mais me ter posto a vista em cima após a segunda fase dos exames nacionais. É normal, que o facto de termos ficado amigos depois de tudo o que tivemos me deixou bastante feliz. É do teu conhecimento que, na única relação a sério que tive, eu e o T. não ficamos amigos (apesar de termos combinado isso, nenhum de nós voltou a dirigir a palavra ao outro). Pela primeira vez, eu senti que fiz a coisa certa, que consegui resolver uma fase da minha vida como uma pessoa normal, que apesar de não ter esquecido o sentimento que me unia a ele, que conseguia ultrapassá-lo aos poucos e continuar amiga dele. Enganei-me, redonda e puramente.

Fui de férias aquela semana para Lisboa, e lembro-me perfeitamente de ter falado com ele pelo menos duas vezes na mesma semana através de mensagens e estava tudo bem. Depois de ter regressado a casa, como sabes, foi voltar a fazer a mala e ir para a casa de uma amiga minha que mora na cidade ( a cidade onde tenho aulas, o concelho a qual pertenço), uma amiga em comum fazia anos e eram as festas de lá. Era mais do que provável vê-lo num dos dias. Acontece que, no dia em que cheguei lhe mandei uma mensagem a meter conversa e a dizer que estava por aqueles lados ... Ele ficou surpreendido, mas tal como nos outros dias falamos normalmente. A festa passou-se, vários dias de festa e consegui divertir-me um bocadinho. Se o vi? Vi mas não falei com ele nem tive oportunidade para isso.
Sabes que fico intrigada com várias coisas, e o facto de ele me ter dado na cabeça o Verão inteiro por não me ter visto e na semana em que me podia ter vindo dizer um mero "olá" não me ter dito nada, deixou-me preoucada.
Resolvi mandar-lhe mensagem e mais valia ter estado quieta. Ele mudou, mudou do dia para a noite. Não é o rapaz que eu conheci, não é mais o rapaz que me fazia sorrir como louca. Mudou tanto em tão pouco tempo. Quando lhe perguntei o porque de não me ter dito nada a resposta dele magou-me como nunca me tinha acontecido. "Talvez porque não te quero ver".
Não estava à espera ... Quer dizer, andou um verão inteiro a dizer e a mostrar que estavamos bem e depois, de um dia para o outro diz-me aquilo?
Sabes como sou, detesto ficar por coisas mal resolvidas e estar mal com alguém parte-me o coração. Voltei a tentar, voltei a meter conversa com ele. Perguntei-lhe o que se passava, a resposta dele foi "nada". Insisti, a resposta voltou a ser mesma: "nada".
Irritei-me, quase chorei. Perguntei-lhe o porque de estar a fazer isto agora, que não o compreendia e que nunca ia aceitar. Disse-me que não era o que ele queria mas o que tinha de ser feito. Não percebi, continuo sem perceber.
Para piorar tudo, ontem vi-o. Não tenho a certeza se ele me viu, mas acho que não. Estava sentado numa barbearia, de cabeça baixa. Nunca tinha sentido tanta raiva dentro de mim, mal que lhe pus a vista em cima só me apetecia chorar e o esforço que fiz para me controlar e não desabar no meio da rua e na frente dos meus pais, deixou-me as mãos todas marcadas devido à força que fiz.
Se reagi como reagi ao vê-lo através de um vidro, imagina cara a cara na segunda-feira....
Lembraste do outro rapaz? Do rapaz da guitarra? Pois, as coisas estão piores muito piores ... mas isto fica para outra carta.
Quanto às tuas dúvidas já te disse que acho que não tens nada com que te preocupar mas, que percebo os teus motivos. Tal como referiste na tua carta, temos medo da mudança, temos medo do que o acto "mudar" nos pode trazer.
É em assuntos como estes que gosto de falar contigo, gosto de te ouvir e tentar ajudar. Percebo-te melhor do que, se calhar, as pessoas que se dão contigo todos os dias porque, quando é ao contrário, sinto o mesmo. Sinto que me dás melhores conselhos que as pessoas que estão perto de mim. Não importa os quilómetros que nos afastam, são as palavras que nos aproximam e o poder das palavras é muito forte.
Carinhosamente,
Ana.