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Sweet Nothing

Sweet Nothing

Qua | 06.10.10

Don't stop dreaming - Capítulo #38 [Primeira parte]

Olá leitores, aqui fica mais um capítulo da Don't Stop Dreaming.

 

Don't Stop Dreaming - Capítulo #38

 

Depois de passar os dedos pela margem dos olhos para impedir que o seu sofrimento se expressa-se com lágrimas, Richard estendeu uma folha de papel com os vincos das dobras muito salientes. Uma carta.

Anne, encara Richard durante alguns minutos, e depois começa por ler aquele pedaço de papel que poderia mudar tudo:

 

Querido Richard,

 

Eu sei que vai ser díficil de perceber, mas quero que saibas que a mãe e o pai te estão a fazer isto, para salvaguardar o seu maior tesouro: Tu e a tua irmã. Vocês são a nossa maior riqueza e por isso mesmo temos de vos manter em segurança.

Meu querido, lembras-te de todos os momentos que passamos os quatro, juntos? Lembras-te da primeira aula de piano com a Anne, do primeiro passeio de barco, das vossas guerras de almofadas pela casa toda? Temos a certeza que te lembras, pois não foi assim há muito tempo, e os momentos mais felizes das nossas vidas, ficam sempre guardados em dois sítios: na nossa mente e no nosso coração. É impossível esquecer, não é? A razão pela qual te estamos a escrever esta carta, é um bocadinho complicada e difícil para a nossa família, mas por vezes temos de fazer escolhas e esta é a melhor. Há alguns anos atrás, antes de vocês nascerem, o dinheiro que a mãe e o pai ganhavam não era muito e quase não dava para as despesas básicas. As coisas começaram-se a agravar-se pois a nossa casa era arrendada e o dinheiro começou a faltar. Para agravar a situação, a mãe ficou sem emprego e o pai teve de se envolver nuns negócios, que a principio correram bem. Conseguimos, comprar a casa e a nossa situação financeira melhorou bastante. Nestes dois últimos anos, os senhores com quem o pai fez o negócio, começaram a exigir mais dinheiro e o pai não quis contribuir, por isso e por um erro nosso eles andam a ameaçar-nos. O atropelamento da Anne, não foi culpa tua ou dela, mas sim de um desses homens, desses homens maus. Relembras-te da conversa que tivemos, onde nós te dissemos que os maus têm de ser presos? Desta vez, nós não podemos fazer queixa, pois o pai acabaria por ir também e a nossa família ia ficar desfeita. Já pusemos todas as hipóteses, mudarmos-nos foi uma delas, mas eles acabariam por nos encontrar. Por isso, meu querido, tu vais ter de ir morar com a tia Charlotte, em Los Angeles. Eles souberam que tu sobrevives-te ao atropelamento, e prometeram vingança.

A parte mais dificil disto tudo, é que tu não podes ter mais contacto com a Anne, pois torna-se perigoso para ela e para ti. Vocês são inseparáveis, e esta é a coisa mais dificil que nós temos de te pedir. A partir de agora, tens de culpar a Anne do teu acidente. Eles ameaçaram-nos que vos faziam mal, e nós não podemos correr esse risco. Neste momento, eles sabem que a Anne vai ficar connosco pois é a única que ainda não sofreu com as consequências. A mãe e o pai prometem que te vão visitar todos os meses, e que um dia tudo voltará a ser como dantes. Por favor, desculpa-nos.  Quando terminares de ler esta carta, por favor perdoa a mãe e o pai pelo que te estão a obrigar a fazer. A mãe ama-te muito e tu continuarás a ser sempre o rapagão do pai. Temos a certeza que a Anne vai perdoar-te um dia, e quanto mais tarde ela souber a história melhor, pois nós acabamos por vos envolver num erro que foi nosso. Desculpa ...

 

Com amor,

Mãe e Pai

 

Como é possível? Porque é que me esconderam isto tudo? Porquê?

Eu tinha a resposta para estas perguntas na carta, mas custa saber que a separação de dois irmãos, se resume a um problema monetário, a um négocio escuro. Senti-me a pior pessoa do mundo, afinal tudo o que Richard fizera fora para meu bem e para tentar corrigir um erro do meu pai. A vida é injusta... muito injusta.

Deixei-me cair contra a parede, coloquei os braços em cima dos joelhos e nesse espaço vazio coloquei a minha cabeça. Gritei ... era a única maneira de me sentir livre de todos os problemas, que me assombravam a cabeça há muito tempo. As lágrimas caiam, escorriam pela cara como se de uma chuva torrencial se tratasse.

Com o silêncio instalado no quarto, percebi que Richard também chorava. Não pensei em mais nada, simplesmente levantei-me e fui em passo apressado ter com ele, estava sentado na cama, os seus cotovelos tocavam nos seus joelhos e a cara estava escondida entre as suas mãos.

 

Anne: Rich...

 

Richard tirou as mãos da cara e colocou os braços esticados nos joelhos, o seu olhar encontrou o meu, e com receio ajoelhei-me e estiquei as minhas mãos até ao seu pescoço. As suas agarraram a minha cintura e cruzaram sobre as minhas costas.  Aquilo, aquele acto de abraçar, aquele agarrar alguém, alguém que era Richard, Richard que era meu irmão. As minhas lágrimas eram as suas lágrimas, eram bom senti-lo nos meus braços.

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