Dreams Of Love - Capítulo XXX - Feliz ano novo, meu bem.

- Claro que está, a minha melhor amiga está sempre bonita. – Ruben interveio dando-me um beijo bastante sonoro na bochecha.
Olhei para David, este mantinha os olhos em mim o que me fez desviar o olhar para a pequena Sophia que agora se encontrava ao colo de Brenda a brincar com os seus cabelos loiros.
- Então desaparecido, a tia Anabela gostou do perfume? – Perguntei ao Ruben para que este não percebesse o clima que se tinha gerado desde a sua chegada.
- Oh parolinha, claro que gostou – Ruben sentou-se no apoio do sofá e colocou o seu braço em cima dos meus ombros o que automaticamente me fez encostar ao seu corpo quente. – É verdade, no próximo fim-de-semana tens de ir lá jantar porque há muito tempo que não vais lá.
- Está prometido.
Vários sotaques se misturavam na sala, várias culturas eram ali recriadas. Várias conversas e variados assuntos, um barulhinho confortável invadiu os meus tímpanos. O meu olhar, fixou David. Tentava manter uma conversa com Javi mas não me pareceu que ouvisse o que o espanhol dizia, mais uma vez os nossos olhares cruzaram-se e assim ficamos até que Romanella juntamente com Andreia informaram que o jantar estava pronto. Sophia fez questão de se sentar ao meu lado e durante todo o jantar permaneci atenta na princesa mais reguila que conheço.
- Vá lá meu amor, só mais esta colher. – Sophia não achava muita graça ao facto de comer sopa.
- Oh Maiana mas eu não queio. – Aquela vozinha sonhadora derretia o meu coração, mas as indicações da Brenda tinham sido bastante claras.
- Oh Sophia já falta pouquinho, olha – mostrei-lhe a tacinha que continha apenas mais uma ou duas colheres bem cheias de creme de cenoura – se comeres mais duas colheres a Mariana no fim deixa-te repetir a mousse de manga.
Sophia levou as mãozinhas à boca e com uma expressão muito animada, gracejou: - Há mouxe de manga? – Depois de confirmar a existência da sua sobremesa favorita, Sophia retirou as mãos que me impediam de lhe dar a sopa e proferiu. – Dá-me Maiana, dá-me sopinha.
- Oi garota, acha que vai sobrar mousse aqui pró David? – David, que assistia com bastante atenção à cena que se desenrolava entre mim e Sophia, deu o ar da sua graça-
- Shim, eu dou-te calacole. – O que me agradava mais na pequena Sophia era o espirito de partilha e de solidariedade que tanto Brenda como Luisão lhe transmitiam – Acabei, Maiana.
- David, que se passa contigo? Estás muito calado, nem pareces tu.– Aquele espanhol cerrado da minha argentina favorita, Romanella, invadiu a sala.
- Nada não, eu estou normal. O David de sempre. – Respondeu-lhe em tom baixo, pois Romanella encontrava-se do lado direito de David.
- Mano, não gozes comigo. Tu? Normal? – Foi a vez de Ruben interromper o raciocínio e a mentira proferida pelo seu melhor amigo. – Desculpa lá, mas desde que entraste aqui que não estás animado.
- Manz, eu volto a repetir que estou normal. A sério, acredita em mim mano.
Ruben limitou-se a encolher os ombros e a beber um pouco mais do vinho tinto que possuía no copo. O resto do jantar decorreu normalmente, com conversas e olhares trocados.
(…)
- Maiana, podemos ir buscar mais? – Sophia tinha repetido a mouse umas duas vezes, e depois dos rapazes abandonarem a sala de jantar e jogarem uma partida de bilhar e das raparigas ajudarem a arrumar a cozinha, aquela voz soprou bem juntinho ao meu ouvido.
- Vá, anda. – Puxei Sophia pela mão e dirigimo-nos à cozinha.
Ficamos ali até que Sophia terminasse a terceira taça de mousse e quando me preparava para regressar à sala, David apareceu.
- Ah sua muleca está comendo mais mousse?
Sophia riu baixinho e escondeu-se atrás de mim, olhando de soslaio para David.
- Calacole, não podes contar à minha mãe. É um segedo meu, teu, e da Maiana.
- Prometido garotinha, o David não conta a ninguém. Sophia, pode ir andando para a sala? Eu precisava de conversar com a Mariana. – Pediu David deixando-me com uma expressão bastante surpresa no rosto.
Sophia, acenou afirmativamente e entregou-me a tacinha abandonando em seguida a cozinha. Apressei-me a virar as costas ao homem que, há dias atrás, tinha beijado.
- Vai continuar fugindo?
- Ainda estou aqui, não estou? – Perguntei-lhe sem nunca o encarar. – Eu não fujo de ninguém.
- Então o que é que você fez naquela tarde? Sair correndo não significa fugir? – Pelo canto do olho, vi David encostar o seu corpo à bancada central da cozinha, sitio onde eu me encontrava.
- Eu não fugi, David. – Resmunguei quase em surdina, virando-lhe mais uma vez as costas.
- Ai não? – David agarrou-me pelo braço e fez com que os nossos corpos se colassem, enfrentando-nos olhos nos olhos. – E o que é que você ia fazer agora? Ah espere … fugir.
- Tu não percebes – indaguei – tu nunca vais perceber.
- Se você não me explica, como quer que eu perceba? Ainda não sou bruxo para adivinhar.
- Não sejas irónico, David.
- Aff Mariana, nós precisamos conversar.
- Conversar sobre o quê? – A minha consciência sabia perfeitamente qual o motivo, mas o coração não queria que este fosse abordado.
David olhou-me com um olhar bastante determinado e prosseguiu: - Sobre o que se passou entre nós, Mariana. Vai fingir que não aconteceu?
- Aconteceu David, mas nós não temos de conversar sobre isso.
- E você continua a tentar fugir. – Limitei-me a baixar a cabeça e fixei o olhar nos meus sapatos, David obrigou-me a encará-lo novamente. – Porque é que você age assim? Não diga que eu não entendo, me explique o motivo.
- Não agora, David. – Confessei-lhe e pela primeira vez naquele dia olhei-o nos olhos como deve ser e passei-lhe a mão ao de leve pelos caracóis desalinhados. – Talvez um dia eu consiga falar abertamente contigo, mas não agora.
Os nossos corpos continuavam próximos, tão próximo que sentia a respiração do David no meu cabelo e se o olhasse nos olhos a sua respiração serena embatia nos meus lábios.
- Eu não me quero afastar de você … Eu espero o tempo que for preciso para você me contar o que quiser contar, mas não se afaste. – Pediu-me – Não me apague da sua vida.
- Não era minha intenção fazê-lo, David.
- O que eu disse no outro dia … - David referia-se às suas palavras antes do beijo. – O que eu fiz, foi meu coração que mandou.
- David – sussurrei – por favor, não tornes isto mais complicado.
- Minha cabeça está virada do avesso, e meu coração não está direitjinho mas, eu quero você de bem comigo.
- Eu estou de bem contigo – proferi imitando o seu sotaque e depositando um beijo na sua bochecha esquerda. – Não preocupes essa cabecinha.
Ouvimos a voz de Ruben no corredor de acesso á cozinha e separamo-nos: David, caminhou em direcção à porta e eu comecei a passar a taça, onde Sophia tinha comido a sua terceira dose de mousse, por água.
- Mano, - Ruben não demorou muito a alcançar a cozinha e quando encontrou David na porta colocou-lhe a mão no ombro, dirigindo-se de seguida a mim: - Mariana, venham para a sala, falta um minuto para entrarmos em 2010.
Assenti ao de leve com a cabeça, pousei a taça no lava-loiça e segui-os em direcção à sala. Pablo, sempre brincalhão pediu autorização a Fábio para depositar champanhe no meu copo e depois de um falso e curto amuo da minha parte iniciamos a contagem decrescente. Entramos em 2010 num êxtase total, todos desejamos um bom ano aos restantes companheiros de sala e dançamos ao som do nosso DJ improvisado: Ruben.
(...)
Pouco passava da uma da manhã quando abandonei a sala de estar e me dirigi á varanda. Encostei-me ao corrimão da mesma, e olhei Lisboa. Abstraí-me do barulho proveniente da sala e concentrei-me apenas na paisagem que se estendia diante dos meus olhos.
- Mariana, - aquele timbre caloroso que tão bem distinguia, chamou-me e levou-me a encarar David – eu vou andando, mas queria-me despedir de você.
- Já vais?
- Sim, amanhã tenho de acordar bem cedo e está ficando tarde. – Esclareceu dando alguns passos na minha direcção.
- Pois, a Sophia está a dormir?
- Sim, Andreia deitou-a na sua cama e a garota pegou no sono logo. – David sorriu-me mais uma vez e colocou a sua mão direita no meu rosto. – Bom ano, muleca.
- Bom ano, grandalhão.
Os lábios de David aconchegaram a minha face direita, fechei os olhos. O seu perfume, que eu tanto gostava, invadiu as minhas narinas e percorreu o meu corpo. Separamo-nos e as minhas mãos encontraram também o seu rosto.
- Eu não quero tornar isto mais complicado, - confessei-lhe, - mas é difícil não saber o que verdadeiramente sinto em relação a ti. Eu só não te quero magoar e sair magoada, é tudo o que eu menos preciso.
- Eu prometo que não vou magoar você, Mariana. É tudo o que menos quero, pequenina.
David fechou os olhos lentamente e aproximou-se do meu rosto, imitei-lhe os movimentos. Sem pressas, sem lamentos, sem nada que nos pudesse travar: beijamo-nos.
- Feliz ano novo, meu bem. – Sussurrou bem pertinho dos meus lábios.
- Feliz ano novo, brasileirinho. – disse-lhe, também em tom baixo.