Suprise me With Words #1

Ela, personagem sem nome. Será que precisa? Toda a gente precisa de um nome mas, as atitudes distinguem e rotulam pessoas. Ela é do tipo de pessoa que, tem cuidado com a aparência mas também sabe ser desleixada. É do tipo de personagem que, sabe sorrir e esconder mais de mil e um sentimentos. Porquê? Porque lhe ensinaram a ser assim … Porque estamos a falar de uma pessoa que acredita nas crenças que lhe incutiram. Se está certo ou errado, ninguém o pode julgar: é a maneira dela ser e cada um tem a sua. Eu pelo menos não julgo quem não conheço, ou tento não fazer isso, julgar.
Menina destemida, um pouco/muito envergonhada. Possui mais de mil capas, e usa uma diferente todos os dias. Tem as suas próprias rotinas, é dona e senhora do seu nariz. Sempre? Nem sempre, nada é de sempre nem para sempre. Não deixa conquistar o que é seu, e por isso não se dá a conhecer. Não tem amigos. Os seus pais? Nunca os conheceu e talvez não tenha necessidade disso. Única família? A Maggie – a nossa vizinha do lado – e um pequeno labrador preto – de nome, Louis – muito gordo. Mete-me confusão, o facto de possuir sempre a mesma expressão quando saí e entra em casa. Assemelha-se a um corpo sem alma – se coisa tal existe -, parece que entra num mundo muito pouco preenchido. Usa sempre o mesmo penteado, um carrapito muito bem feito que mais parece uma obra de arte que, para bons observadores como me autoconsidero reflecte o seu estado de espírito. Igual ao de todos os dias, fechado, confuso … perfeito. Esta interveniente, não fala com ninguém. Arrisco-me a dizer que nunca ouvi o seu tom de voz.
Porque escrevo sobre ela? Porque, hoje e pela primeira vez olhei para a janela do seu quarto, que fica virada para a minha, e vi-a. Vi-a como nunca antes a tinha visto. Cabelo solto, sorriso no rosto e olhar posto em mim. A sua mão estendeu-se e acenou-me brevemente. Retribui-lhe o sorriso e assim ficamos, horas. De olhos postos um no outro. Querido caderno de desabafos …
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